O pensamento neoliberal vem
causando muita confusão no meio das Ciências Sociais, que são uma área de
conhecimento e não uma profissão. A profissão regulamentada, fruto da luta, é a
de Sociólogo. Não existe a profissão de cientista social. Nosso compromisso é
com a luta pela ampliação do mercado de trabalho do Sociólogo. Por trás dessa discussão, existe, por um
lado, uma visão nostálgica de alguns acadêmicos que querem o retorno a uma
formação que não existe mais, pois, toda ciência caminha, em razão do
desenvolvimento da pesquisa, para a especialização. Uma formação acadêmica
generalista na graduação não tem mais lugar nos dias de hoje. Seria como
propor, por exemplo, o fim das graduações em Física, Química e Biologia e o
retorno dos cursos de Ciências da Natureza, como era no passado. Por outro
lado, existem aqueles que defendem a formação de um cientista social, invocando
um currículo interdisciplinar. Omitem esses defensores de uma "graduação
interdisciplinar" que só existe interdisciplinaridade se houver disciplinaridade.
Talvez essa, a da interdisciplinaridade, seja a argumentação mais pérfida que
já atingiu a Sociologia e a Educação, pois, ela oculta, em nome de uma idéia
importante, a do diálogo entre as ciências, o projeto de uma formação acadêmica
pobre e barata.
Devemos atentar também para
o fato de estar em discussão, hoje, no MEC e no Congresso Nacional, o projeto
do chamado "Ensino Médio Inovador" que põe fim às disciplinas e cria
um ensino por áreas de conhecimento. A formação de um professor generalista
atenderia a esse projeto: a da formação acadêmica pobre e barata para pobres.
Ou seja, o discurso da formação generalista esconde, na verdade, uma proposta
obscurantista, um verdadeiro golpe na Educação e na Sociologia. A concepção
neoliberal quer proporcionar uma formação barata e de má qualidade para
professores que irão trabalhar com jovens das classes populares. É claro que
esse projeto é apresentado sempre com uma bela roupagem e um belo discurso,
mas, facilmente desvelado quando observamos que a carga horária exigida é de
2400 horas em três anos do ensino médio, ou seja, 800 horas por ano de ensino,
ou 4 horas-aula por dia, apenas, num momento em que os movimentos sociais e as
entidades da sociedade civil organizada, comprometidas com as lutas
democráticas e populares, defendem exatamente o contrário: um ensino em tempo
integral para atender as exigências de uma educação de qualidade.
A idéia equivocada de formar
"cientistas sociais" em vez de Sociólogos, Antropólogos, Cientistas
Políticos etc., tem por objetivo corroborar para com esse projeto neoliberal, pois,
seria, ainda, de difícil sustentação pelo neoliberalismo, além de incongruente,
propor para a sociedade uma licenciatura generalista e um bacharelado especializado.
Assim, dentro da lógica neoliberal, as licenciaturas formariam professores de “ciências
sociais” e os bacharelados "cientistas sociais".
Num momento em que a
Sociologia se afirma como disciplina no Ensino Médio e as profissões de
Professor de Sociologia e de Sociólogo ganham espaço no mercado de trabalho, a
proposta de formação acadêmica generalista representa uma reação dos setores
conservadores e obscurantistas às conquistas obtidas nas últimas décadas, como
a da regulamentação da profissão de Sociólogo e o retorno da disciplina de
Sociologia ao Ensino Médio em todo o país.
Márcio Franco X.Vieira
Dez/2013