sábado, 12 de janeiro de 2013

Educação municipal: realidade das escolas contrasta com a propaganda da Prefeitura

Às vésperas do Ano Novo, a imprensa carioca divulgou a notícia de que o prefeito Eduardo Paes pretende construir 277 escolas em tempo integral no seu segundo mandato. Contudo, o dia a dia das escolas da rede municipal não corresponde a essa “realidade” colorida divulgada nos jornais.

Ao contrário da propaganda, agravam-se os muitos problemas enfrentados pelos profissionais de educação na difícil realidade cotidiana das escolas municipais.

Podemos começar citando o compromisso do prefeito quando disputou o seu primeiro mandato de “acabar com a aprovação automática”. Todo professor sabe que isso é uma falácia. São tantas as pressões sofridas pelos professores, que, na prática, vivemos ainda numa espécie de cultura de “aprovações automáticas”. Essa questão é de grande importância, pois, ela nos remete à autonomia do professor que a cada dia se torna mais e mais reduzida, não só pelas pressões sofridas no exercício do magistério, mas, também pela intervenção externa de “fundações” e “organizações sociais”, desconhecedoras da realidade da nossa rede (algumas inclusive de outros estados), mas, que impõem seus “pacotes educacionais” na vã esperança deles serem a solução mágica para os problemas de aprendizagem das nossas crianças. Pacotes que visam transformar a rica experiência de ensino-aprendizagem em mero “treinamento” para as tais “avaliações externas”, instrumentos de elaboração dos chamados “indicadores da qualidade da educação”. Esses “indicadores”, na verdade, não passam de números. Que modelo educacional é esse que acredita que podemos transformar toda uma experiência educacional, uma experiência de vida, em simples números?

Mas, a autonomia da escola é também atingida pela precarização de sua mão de obra, cada vez mais formada por terceirizados, “oficineiros” etc. Como podemos pensar em qualidade na educação, quando os vínculos com a escola são cada vez mais frágeis e as relações de trabalho mais precárias?

Na expectativa da rede municipal entrar no século XXI, a prefeitura resolveu implantar, experimentalmente, o “diário eletrônico”, a mais nova expressão da “modernidade” ou “pós-modernidade” da secretaria municipal. Com o diário escolar online, num toque na tecla do computador, o professor pode fazer os registros de classe, ingressando, assim, na mais nova fronteira da era digital, a “computação em nuvem” (cloud computing, em inglês), onde a partir de qualquer computador e em qualquer lugar do planeta, pode-se ter acesso a informações, arquivos e programas. Só que em quase metade da cidade não temos uma cobertura adequada pela internet. Irônico, mas o prefeito parece que se esqueceu de informar aos tão famosos cérebros que ele importou com o objetivo de “modernizar” a maior rede municipal pública do mundo que aqui, na Zona Oeste*, aquela parcela da cidade que elegeu e reelegeu o Sr. Eduardo Paes e que reúne metade da população da cidade, estamos ainda numa espécie de “idade da pedra” da internet, pois, são poucos os locais onde temos uma boa cobertura de banda larga.

Como se isso tudo não bastasse, a prefeitura age, agora, na virada de 2012 para 2013, para acabar com o Programa de Extensividade da rede municipal, se não de uma vez só, mas, aos poucos, onde não há mobilização e resistência da comunidade escolar. Um programa que possui mais de uma década de sucesso e êxito, reunindo os Pólos de Educação pelo Trabalho, os Clubes Escolares e os Núcleos de Arte. Tudo em nome da “integralidade”. Ora, mas essas unidades de extensão não foram criadas para proporcionar o ensino integral aos nossos estudantes, através da preparação pelo trabalho, do esporte e da arte? Por que então acabar com elas?

Ainda para promover a maior “eficiência” da rede, a prefeitura está agrupando, aos poucos, as escolas em três tipos de unidade: Casas de Alfabetização, Primário Carioca e Ginásio Carioca. Uma espécie de reengenharia educacional com impactos na educação ainda difíceis de serem avaliados em toda a sua dimensão. Porém, alguns efeitos já estão sendo tristemente sentidos pela comunidade escolar. Famílias que tinham todos os seus filhos estudando numa mesma escola, com essa nova divisão, têm suas crianças estudando em escolas diferentes, muitas vezes. Professores que trabalhavam há vários anos na mesma escola, formando equipes com todo um trabalho desenvolvido e uma vida profissional ligada à comunidade escolar, tiveram que se desligar da unidade para trabalhar em outra escola. É cedo para avaliar os efeitos dessa medida, mas, de certo não é muito difícil imaginar quanto transtorno isso está provocando!? Um projeto concebido dentro de gabinetes, sem o diálogo necessário com os professores e com os responsáveis pelos estudantes. O seu desfecho poderá ser muito diferente de outros concebidos da mesma forma?

Fico por aqui... No próximo número, um pouco mais da luta pela Educação.

* Zona Oeste: A Zona Oeste do Rio de Janeiro, é uma área é uma área geográfica carioca, localizada a oeste do Maciço da Tijuca; vai do Anil, passando por Jacarepaguá, Barra, Vila Valqueire, Sulacap, até Sepetiba.

por Márcio Franco
Sociólogo, Professor, Gestor Educacional, Mestre em Educação e em Psicopedagogia.
Fonte: Jornal Abaixo Assinado de Jacarepaguá
http://jaajrj.wordpress.com/2011/06/27/jornal-abaixo-assinado-de-jacarepagua-ed-53-janeiro-de-2013

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